sexta-feira, 13 de maio de 2011

JORNADA PARA OS ANCESTRAIS


As mitologias nos chegam através de suas matrizes mais famosas, os deuses gregos e romanos, as divindades egípcias e tantas outras que foram popularizadas pela mídia. Todas elas comungam do fato de que seus deuses estão distantes das criaturas comuns. Estão acima das capacidades humanas.  Tais mitologias têm servido de guia para o reino interior  de cada pessoa conforme os mais variados sistemas religiosos e também das práticas divinatórias, como a astrologia e o tarô.
Existem caminhos para o reino interior que são construídos por cada pessoa e por cada grupo social. Estes caminhos constituem-se na mitologia particular de cada um. Uma nação, por exemplo, conta a si mesma estórias que lhe reforçam a identidade; A mesma coisa um estado, uma cidade e um time de futebol ou grupo de amigos.
No prefácio do livro Mitologia Pessoal de David Feinstein e Stanley Krippner, a doutora June Singer diz que os mitos pessoais são geralmente confundidos com crenças errôneas, que não são simples estórias que você conta para si mesmo, mas sim "uma vibrante infra-estrutura que fornece informações sobre a sua vida, tenha você consciência dela ou não”.
Roland Barthes em seu livro Mitologias já tinha ampliado este conceito de mitologia a outras práticas que não somente aquelas que tinham algum paralelo com as culturas antigas. Do ponto de vista desta estória pessoal estruturante, temos a fábula de Paulo Coelho em seu livro "O Alquimista" relatando sobre a existência de uma lenda pessoal.
É uma grande aventura procurar investigar a própria mitologia pessoal e expandir a sua consciência  para além das limitações da compreensão  cotidiana. O livro Mitologia Pessoal, citado acima, propõe um modo de descobrir o sua história interior através de rituais, dos sonhos e da imaginação.
Os rituais propostos são de natureza simbólica e devem ser conduzidos como um jogo criativo. O primeiro ritual é a jornada de volta aos seus ancestrais. É um ritual de apresentação da mitologia pessoal e pede ao participante que imagine uma ida ao ponto de origem de sua mitologia. É uma viagem extremamente simples que consiste em imaginar de onde vem todas as coisas que hoje se encontram em você.
O ritual pode ser feito assim: Vá para uma sala ampla que lhe permita dar alguns passos para trás. Coloque-se na posição atual e verifique qual é o seu mundo agora, quais as suas maiores preocupações, quais as suas principais fontes de satisfação, como compreende a sua posição na sociedade, suas limitações, privilégios e responsabilidades; se também acredita ou percebe que alguma força superior preside os destinos humanos. Depois de fazer este inventário  a partir de você mesmo no agora, vá à segunda etapa.
Dê um passo para trás e imagine-se entrando no corpo de seu pai (ou de figura masculina equivalente) se for homem, ou de sua mãe (ou de figura feminina equivalente)  se for mulher, faça isso como se vestisse a pele deles como naquele filme " Quero ser John Malkovich”( Being John Malkovich), do mesmo modo que fazem os atores com as suas personagens, coloque-se no lugar dele sabendo que não é ele. Então desta posição usando a imaginação verifique qual é o mundo de seu pai (ou mãe), o que ele via, ouvia e sentia, quais eram as suas maiores preocupações, quais as fontes de prazer, como compreendia a sua posição na sociedade, suas limitações, privilégios e responsabilidades e se acreditava em alguma força superior acima da criatura humana. Faça este  inventário e dramatize o que sabe da vida desta pessoa. Feito isso vamos para a terceira etapa.
Dê outro passo para trás e imagine-se entrando no corpo de seu avô e cumprindo os mesmos passos da etapa anterior. Lembre-se de tomar consciência das posições inicial, que era você mesmo, a segunda posição que era o seu pai ou sua mãe, conforme o caso. Terminada esta fase vamos para quarta etapa.
Dê um outro passo para trás e imagine-se entrando no corpo de seu tataravô ou tataravó, conforme seja o seu caso. Repita todos os passos anteriores. Agora tome consciência das posições anteriores e da sua posição atual. Lembre-se que é um jogo criativo de viagem no tempo. Desta última posição, faça o caminho de volta indo para a terceira, a segunda e a primeira posição, mas a cada etapa vá construindo um poema épico sobre si mesmo, contando de onde você vem. Ao retomar a primeira posição refaça as suas questões sobre a vida e o mundo e volte-se para as outras posições recordando aspectos fundamentais de cada uma para você atualmente.
Este é um primeiro exercício, que traz consigo os rituais seguintes que ensinam que os mitos pessoais podem ser reconstruídos, resignificados e transformados em outras coisas. Através da imaginação é possível curar o passado e apontar para a construção de um futuro feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário