segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

MONÓLOGO SOB ENCOMENDA: O AMOR É DE GRÁTIS.

“O amor é de grátis” - foi o que escutei um dia desses de soslaio de uma conversa sobre as coisas deste nosso mundo econômico-social na qual se filosofava que não existia almoço grátis.

Bem, é verdade, mesmo que não haja como mensurar, o amor é algo muito maior do que qualquer enredo de telenovela, um misterioso “X” mais do que uma charada a ser resolvida.

O fato é que amamos “de grátis”. É comum se escutar esse “de grátis” vez ou outra. Acho que nada é mais verdadeiro que dizer que “o amor é de grátis”. Sendo assim gostaria de te dizer que te amo, mesmo na improbabilidade de meus sonhos impossíveis. Simplesmente te amo, “de grátis”, como dizia a personagem Mussum do programa televisivo de humor “Os Trapalhões”, talvez poucos se recordem dele, mas aquela personagem nos traz a lembrança de que talvez se possa encarar o ato de amar “de grátis” com uma piada.

Uma piada! É assim mesmo que me sinto, como uma grosseira piada ao amar desinteressadamente num universo social no qual tudo é calculado em seus deveres e haveres. Aceite então esta minha fala solitária e desengonçada, provavelmente mais uma peça de comédia do que uma lírica entrada em um paraíso perfeito.

Nesta ocasião lembro-me que estou adentrando os jardins da imperfeição. Amar significa aceitar a condição do outro, ou como se diz: ao que ama, o feio bonito lhe parece.

Observem que já estamos em companhia da comédia, do jardim dos loucos e das aventuras sem pé nem cabeça dos aventureiros que se largam ao mundo sem olhar para trás. Deves saber que poderíamos até cair no engodo de que esta coisa de amar se resume a uma frase curta que ilustra figurinhas colecionáveis, e por outro lado também se pode acreditar que o verso desta afirmação também é verdadeiro, o amor é tão largo quanto curto em sua definição, mas de que adiantam todas essas tergiversações, quando vier o próximo inverno saberei que você não estará comigo e então sem qualquer palavra saberei que é ou não amar.

É na solidão que aprendemos o valor das palavras e no silêncio de observar o outro em seu artesanato vivencial. Sabes que eu te amo, em ais de uma sequência de amores impostores e personagens refratários a toda explicitação.

Simplesmente iniciei sempre esta viagem de amar o impossível.

Tudo bem – diz o lugar-comum dos conselhos – que se deve se jogar na amplidão das nuvens e voar com as asas que ainda não vemos. Asseguram os conselheiros que nós as teremos, e que em algum momento elas se abrirão como um paraquedas pré-programado para abrir em uma altura determinada.
Assim, vou eu novamente a dizer-te secretamente que te amo, pois que dizer mesmo em significantes vocábulos de uma língua traduzível não seriam eficazes. E nem mesmo a língua mágica dos comediantes de rua, o grumelot, serviria para este propósito. Posso até ensaiar um grumelot nestas reticências…

Mas perceba que tinha razão quando disse que o amor parece refratário a qualquer linguagem, no amor não há linguagem conhecida, talvez seja algo mais do pensamento, algo translúcido e fora da nossa percepção comum.

Após o fim dos tempos irei lamentar de que te disse pouco o quanto te admirava, e recordarei somente quando ias em teu caminho e eu te observava, deixando-te passar, como a brisa que passa e embala o nosso rosto numa tarde quente de verão.

Somente isso é mais do que suficiente para crer, que vale a pena saber que “o amor é de grátis”, totalmente sem taxas alfandegárias, sem impostos sem revistas, sem detectores de mentiras.

No amor vale amar, é assim que se lê em tantos lugares comuns. Então, caríssimo amor saiba que estou por aqui te amando mesmo assim, e se agora desdobro o meu soliloquio diante do mar é porque imagino a possibilidade de talvez aquela coisa, lá na linha do horizonte, ser você em um pequeno barquinho sendo carregada pelas ondas para os meus braços.

Diz uma voz no fundo de minha alma que te aguarde aqui na areia, não porque se deva temer estas miragens como armadilhas das encantadoras sereias. Dizem que os barquinhos no mar sonham com um porto seguro onde chegar.

E se há um barco no mar olhando para o continente, que seja eu este porto que te espera, portanto vem que estou aqui.


E se desdobro a faina de construir esta fantasia é porque como dizem: “o amor é de grátis” e podemos usufruir dele mesmo em sua longa espera. Podemos estar protegidos da corrosão dos espíritos vazios que se entorpecem de coisas vãs sem nunca saber que amar é algo assim tão bom. 

 Hoje sonhei que quando voltasse a caminhar na areia tu te juntarias a mim e se poderiam ver as marcas de nossos passos gravados por um instante antes que as ondas as desmanchassem.

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