Dia a dia as pessoas levantam de suas camas, escovam os dentes e vão para o trabalho, cumprindo uma rotina tão insensata quanto pular de um avião sem pára-quedas. Há um louvor da inconsciência, uma alegria em não ter que tomar parte nas decisões sobre o funcionamento do mundo. Imagine que todas as pessoas, independente do que fazem, ou da riqueza que possuam, levam consigo a cínica percepção do mundo como um lugar, que liga o acordar de manhã cedo ao adormecer à noite. O dia é este caminho, que é desejado que ocorra como um raio que risca o céu. Tudo ocorre como se o momento de acordar fosse um pólo emissor de elétrons e o adormecer o outro pólo receptor, e este feixe de elétrons representaria o dia ideal.
Vivemos numa sociedade que estimula a inconsciência das coisas da vida. Quando o poeta Francisco Otaviano escreveu que quem passa a vida em brancas nuvens, não vive a vida, apenas passa por ela, descreveu o grande ideal pregado pela mídia: passar pela vida, embalado pelas drogas consentidas, as bebidas alcoólicas, o cigarro, as festas do circo público e privado e o faz de conta da vida social fútil. Tudo é feito para que o dia seja algo que passa.
Escutamos as pessoas dizerem que a semana passou muito rápido. Foi a terra que girou com mais velocidade? Não, o globo terrestre sofreu poucas alterações em milhões de anos. O tempo, tal como entendemos, é uma ilusão. Construímos dentro de nós uma idéia de tempo e medimos a nossa vida por este relógio interno. Muitos querem que este relógio gire numa rapidez muito grande para que não se perceba o dia. Esta pressa tem muitas razões. Dói profundamente a cada um a percepção das coisas erradas e uma das maneiras de não vê-las é encurtar o dia, a semana, o ano. Isto sinaliza para uma aplicação do provérbio popular que diz que quem não vê não sofre. No fundo todos estão tentando fugir do sofrimento.
Esta atitude, no entanto, reforça a idéia de sofrimento. Até alimenta-a e faz com que sempre esteja ali ao lado de cada pessoa que se esforça em não olhá-la de frente. A idéia de encurtar a percepção do tempo para fugir do sofrimento é uma estratégia que faz surgir novas angústias e medos. Se tudo o que mais se deseja é viver intensamente uma vida longa, é contraditório não querer viver cada segundo desta vida.
Parece que todo e qualquer consomem de drogas serve ao propósito de dar mais vida a quem comercializa este produto. O usuário irá com certeza morrer diante das pressões químicas que destroem a vida do corpo. No momento final então poderá olhar para trás e perceber que de sua longa vida apenas uma pequena parte foi vivida verdadeiramente.
O tempo é algo que somente existe como uma ilusão. Também o espaço é algo que se junta a esta maneira errônea de entender o fluxo de acontecimentos. No horário de pique com o transito lotado, os engarrafamentos fazendo imensas filas, e a lamentação de cada um com o tempo que não passa. Há muitos que fariam qualquer coisa para escapar desta sensação de que a vida pulsa. Em cada coisa que viva debaixo das nuvens há uma pulsação que mantém a dança cósmica funcionando. Esta imagem de dança cósmica lembra o deus hindu Shiva que simboliza esta vida palpitante.
Mas as pessoas estão seguras que tudo precisa ser encarado como um game que dará a vitória àquele que escapar incólume das tentações da consciência. Os orientais dizem que a vida espiritual depende de cada pessoa despertar para este outro mundo. Quando falamos disso sempre vem à mente a idéia zen budista de meditação ativa, alerta. Meditar não é o esquecimento, mas a presença integral no presente. Muitos são os que meditam para fugir do stress. A idéia de fuga pressupõe algo do qual de foge e quanto maior a necessidade de escapar, maior fica a sombra causadora da ansiedade.
O senso comum diz que cada pessoa é um mundo. Estes mundos existem numa intricada rede que junta a realidade objetiva e a realidade subjetiva de cada um e molda todas as percepções da vida material. Tornam possível a existência do mundo material. Para um indivíduo, em termos práticos, para que serve esta consciência? Para viver o agora? Mas que utilidade isso tem? Pragmaticamente a realidade imediata é vivida mais na memória e nos desejos de futuro.
O momento presente, aquilo que chamamos de agora, exige a presença da consciência. Significa saber quem é e onde está.
Para não seguir o ritmo inconsciente do dia, um BOM DIA para acordar o corpo e a mente é sempre bom, e iniciar o dia com a certeza de que devemos viver cada instante por inteiro.
ResponderExcluirUm beijo Pai.
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